Da saga de encontrar algo para fazer



A última publicação foi há cerca de mês e meio mas parece ter passado toda uma vida no entretanto. Claro que vou culpar a pandemia que num mês e meio se instalou de tal modo na nossa vida que tudo o que era rotina foi alterado e a vida levou ali uma mudança de 180 graus, ou perto disso. Já pensei em passar por cá antes e dar trabalho aos dedos mas faltavam-me as palavras, não o tema, e portanto esperei até hoje quando finalmente tenho muito pouco que fazer.

O dia 10 de Março marcou para mim o último dia em que fiz algo fora de casa, sem ser as compras necessárias e as idas aos avós para tratar deles (levar comida, medicação e ajudar na higiene), quando fui renovar o meu Cartão de Cidadão que nem sequer tive ainda oportunidade de levantar. Os dias seguintes até ao início de Abril dividiram-se entre passar a ter uma casa mais ocupada com um elemento extra em tele-trabalho (quando já somos 2 a trabalhar a partir de casa em época "normal"), a programar uma única ida por semana às compras (para casa e para os meus avós) e tentar condensar tudo numa única saída concentrada numa única pessoa para não haver exposição desnecessária.

Abril trouxe o fim do meu trabalho e deveria ter iniciado um novo ciclo de trabalhos e tal não aconteceu. Falo-vos agora da perspectiva de não ter trabalho tão cedo e de ver cada trabalho agendado a ser cancelado ou adiado para quando houver permissão para tal ou, na maioria dos casos, com datas mudadas para 2021. Tenho sorte de ainda dividir casa com os meus pais, de ter um fundo de maneio que ando a gerir com cuidado, ou a situação ia estar muito mal parada.

Abril trouxe os meus 30. Celebrei os meus 30 anos no dia 12, dia de Páscoa e toda a semana que antecedeu a data foi terrível do ponto de vista mental. Estive em baixo, chorei, fui ao fundo. Andei meses a pensar como celebraria a entrada nos 30, com amigos, mesmo sendo Páscoa, com jogos de tabuleiro e uma jantarada em casa depois de todos terem passado o almoço em família. Não aconteceu. 
Eram cinco da tarde desse Domingo quando o meu irmão me levou à janela e na rua estavam 4 amigos meus, que vivem no Porto e podiam movimentar-se dentro do concelho, com mais 2 amigos em vídeo conferência. Não nos tocamos, cantaram-me os parabéns no meio da rua, chorei que nem uma desalmada e ri de felicidade, conversamos à distância e se há coisa da qual me vou lembrar para sempre é de fazer 30 anos em plena pandemia e de ser uma sortuda por ter estas pessoas maravilhosas na minha vida, uma melhor amiga que passou cá no dia seguinte graças a uma autorização de trabalho e amigos em Lisboa que me enviaram prendas por correio para me distraírem. Isso tudo e a minha família que celebrou comigo.

Entretanto os dias são uma incógnita. Há dias em que acordo bem, muito motivada, faço tudo e mais alguma coisa, limpo armários, faço pão, cozinho coisas a mais. Depois há dias em que acordo mais ou menos e pioro ao longo do dia, a ansiedade toma conta de mim, não sei gerir as emoções e cheguei a ter dias, especialmente em Março, em que tive de recorrer a medicamentos que tenho para tomar em casos de SOS para poder acalmar e até dormir. Não há vergonha nisso, as doenças mentais têm de deixar de ser tabu e não tenho problema algum em falar sobre elas. Portanto, estou a levar um dia de cada vez. 

A coisa engraçada é que continuo com o meu bullet journal, escrevo nele cada pequena coisa, como me sinto, faço listas até com as tarefas mais mundanas, porque por mais parvo que pareça a outros, para mim resulta e ajuda-me a manter alguma sanidade, essa simples tarefa de escrever em papel e poder assinalar coisas feitas. Neste momento esses pequenos truques dão-me uma sensação de estar a fazer algo ao invés de estar unicamente de papo para o ar.

No último mês e meio li um total de 16 livros, superei o meu objectivo de 30 livros para este ano, indo já no 33º e honestamente tem-me sabido muito bem ter alguma disponibilidade extra para isto, mas sobre isso falo numa outra publicação, quiçá em breve.

1 comentário:

  1. Amei o teu texto e não pude deixar de me identificar contigo! Que tudo te corra pelo melhor :)
    Beijinho desde aqui até aí!!

    ResponderEliminar







Joana, 33 anos e natural da cidade do Porto. Fotógrafa de profissão, louca por viagens e sempre com demasiadas opiniões para dar. Escrevo neste blog desde 2009, sendo que o mesmo já mudou tantas vezes quanto eu mudei ao longo dos últimos 14 anos. Depois de um hiatus entre 2020 e 2023, o blog está de volta!